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A Arte de Viajar segundo Alain de Botton


O impulso de sair e navegar é um sintoma de vida; da busca por ela e do seu significado.

Olhando os detalhes do caminho e degustando os sentimentos despertados pelas cores, luzes, cheiros e temperaturas é que se pode ter um vislumbre sobre a essência do que estamos fazendo aqui na Terra. Nosso destino parece ser o de passageiros viajantes e observadores do caminho; nada mais é necessário que observar, absorver, sentir e seguir adiante.

Encontrei um livro interessantíssimo  sobre o ato de viajar. Uma escrita inteligente e fluida, profunda em sua simplicidade. Alain de Botton é um autor bastante interessante e este livro, com o perdão do jogo de palavras, é uma “viagem” verdadeira!

Vale a leitura minuciosa, a reflexão com calma e o fluir de uma longa viagem com ele. Abaixo um trecho que chama muito a atenção, sobre aviões e aeroportos. Sempre em viagens aéreas e em passagens por aeroportos, o sentimento é exatamente o mesmo descrito, quando se observa o ambiente e as grandes aves metálicas… É uma grande síntese sobre o significado deste milagre chamado avião, que pode anoitecer frio em um continente invernoso e amanhecer além-mar, na luz-calor do verão.

“Visto de um estacionamento junto a 09L/27R, como a pista norte é conhecida pelos pilotos, o 747 surge inicialmente como uma pequena luz branca e brilhante, uma estrela a mergulhar em direção à terra. Ele está no ar há 12 horas. Levantou voo ao alvorecer em Cingapura. Sobrevoou a baía de Bengala, Nova Déli, o deserto Afegão, o mar Cáspio. Traçou um percurso sobre a Romênia, a República Checa e o sul da Alemanha antes de começar a descida, de uma forma tão suave que poucos passageiros teriam notado uma mudança de intensidade dos motores, acima das águas turbulentas e marrom-acizentadas do litoral holandês. Acompanhou o Tâmisa sobre Londres, voltou-se para o norte perto de Hammersmith (onde os flaps foram ativados), fez uma curva sobre Uxbridge e corrigiu a rota sobre Slough. Vista do solo, a luz branca gradualmente ganha forma como um vasto corpo de dois andares, com quatro motores suspensos tais como brincos sob asas incrivelmente longas. Sob a chuva leve, nuvens de água formam um véu por trás do avião, em seu pesado avanço em direção ao campo de pouso. Abaixo dele estão os subúrbios de Slough. São 3 horas da tarde. Em mansões afastadas, chaleiras se enchem de água. Um aparelho de televisão está ligado numa sala de estar, sem som. Sombras verdes e vermelhas movimentam-se pelas paredes. O quotidiano. E sobre Slough passa um avião que poucas horas antes sobrevoava o Mar Cáspio. Mar Cáspio-Slough: o avião é um símbolo da amplitude do mundo, carregando em si indícios de todas as terras pelas quais passou; sua eterna mobilidade oferecendo um contrapeso imaginário aos sentimentos de estagnação e confinamento. Ainda nesta manhã, o avião sobrevoava a península da Malásia, um nome-lugar que parece recender aos aromas de goiaba e sândalo. Agora, alguns metros acima do solo que por tanto tempo evitou, ele parece imóvel, com o nariz voltado para o alto, parecendo fazer uma pausa antes que as dezesseis rodas traseiras encontrem a pista soltando jatos de fumaça que evidenciam sua velocidade e seu peso…

…Visíveis através da névoa de calor dos turboélices, outros aviões esperam para iniciar sua jornada. Em todas as pistas, aeronaves se movimentam oferecendo em suas barbatanas uma confusão de cores contra o horizonte cinzento, como veleiros numa regata….”

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