Que barulho ensurdecedor esse tilintar da mudança sem fim de um bolso para o outro.
Grito dos telefones e alarmes, visor gigante dando cotações cada vez mais rápidas e vorazes. Que vozes alteradas em busca da melhor oferta!
Caos provocado e vício da adrenalina fácil; lucros e perdas incessantes, galopantes, alucinantes. Espiral do mais e mais.
Reúne todos e tudo, arrebanha incautos e os transforma em adeptos praticantes – frenéticos.
Explora de forma universal, como se o mundo fora ilimitado. Exaure o espírito humano e a Mãe Terra – suja, corrompe, separa e segrega.
Alcança milagres em realizações e obras inacreditáveis – chega na excelência em tecnologia – ao mesmo tempo em que torna a vida um deserto inóspito. Tudo – mero recurso.
É a lógica do “ter humano”, antiga como a Revolução Industrial. Cruel como não se importar com os meios para se obter o fim.
Sustentável como uma bolha de sabão ao vento, paradoxal, sem futuro, mas com atração irresistível – Sereia contemporânea.
Valores ancestrais de vida e prosperidade não aceitam papel secundário. Não se sabe de onde, o tripé da evolução social, ambiental e econômica sorrateiramente instala-se. Ao mesmo tempo o ruído do “ter” reverbera mais intenso.
Surda mudança. Lenta, sofrida, tênue e forte. O tilintar vai se tornando vazio, irreal, deslocado. Por isso cada vez mais alto e violento – como um animal acuado.
Aos poucos toma corpo uma nova ordem – sem se importar com a incessante criação de caos que alimenta o status quo do “ter mais”. Reverbera uma nova dimensão onde “ter” não pode estar desacompanhado de dividir e proteger.
Perde o sentido obter os fins sem se importar com os meios. Lembra Buda apontando o caminho certo, onde o equilíbrio promove mais prosperidade.
Os meios utilizados passam a ser fundamentais e realmente importantes para a qualidade do “ter”. Que brado surdo se escuta em nosso planeta neste instante!
Homens e comportamentos são profundamente transmutados – surge o verdadeiro “Ser Humano”, que acorda de seu sono do “ter” cada vez mais sem se importar com nada mais.
A Mãe Terra não mais “recurso”, mas verdadeira mãe acolhedora em seu ancestral caminho giratório.
Uma nova figura no horizonte. Um ser sustentável; balanço equilibrado entre ter, socializar e proteger o ambiente. Sem volta; aquilo que não tem mais sentido de outra forma.
O “Ser Humano” desperta de um longo pesadelo em meio a um novo barulho mais ensurdecedor ainda do “Ter Humano”!
Esperneio de morte certa – e próxima.
A nova planta perene invade o ambiente cibernético das bolsas de valores – se não for sustentável não terá valor.
Importa hoje realmente “Ser”.
“Ter” – apenas mera consequência possível.