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Presente Permanente

2010 foi um ano interessantíssimo, muito curto e muito longo ao mesmo tempo. Não parece que o tempo está um grande voador interplanetário; viajando na velocidade da luz?

Temos a ilusão do controle da agenda, do planejamento, da estimativa, dos prognósticos, mas absolutamente a impressão que a realidade nos trás é que estamos navegando em um mar bravio com pouca influência de nosso próprio leme a respeito de nosso destino. O vento e as marés nos levam subitamente para terras e mares ainda desconhecidos – de forma inesperada, sempre. O tempo flui, corre e escorre rápido e inexorável. Cada segundo do presente pode mudar todo o destino de nosso barco. (ou não!)

2010 foi assim, um átimo, um século, um minuto. Dentro do peito a sensação de que acabou de começar, dentro do peito a sensação de que acabou finalmente, de que já vai tarde… que deixa saudades, conquistas e alívios por sofrimentos finalmente vencidos.

Um ano de reflexão. E ação – Muita ação.

Começou com uma incrível viagem ao deserto do Atacama – de São Paulo a San Pedro de Atacama no Chile, junto com mais três carros além do nosso querido Freelander.

Atacama - Janeiro de 2010 - foto de Henrique Sottovia

Éramos 13 aventureiros-turistas, passando um senhor calor no sol da Argentina e na maravilhosa Cordilheira dos Andes.

Uma viagem com muito significado e profundidade, rica de experiências de convívio, amizade, reflexão e observação; tudo com o pano de fundo da profundidade e significância do caminho incrível até lá. Olhar os vulcões viajando a 4000 metros de altitude, no altiplano da Cordilheira, é no mínimo uma experiência transcendental. Quem vai até a Cordilheira deve voltar. Essa foi a nossa segunda vez por lá e realmente foi a constatação dessa verdade.

O deserto é um capítulo à parte. Uma grande serenidade na imensidão da secura e na poesia das paisagens completamente inusitadas. Uma noite esplendorosa de estrelas para lembrar-nos de que também somos o Universo, que somos também um ponto brilhante no escuro do céu infinito.

 O deserto fala e declama sabedoria infinita e atemporal. Apenas é necessário aprender a escutá-lo com a alma, deixando a mente aquietada, saindo completamente do fluir linear do tempo que criamos artificialmente provavelmente por alguma razão de sobrevivência da espécie.

Depois do Atacama, veio o período de 2010 que foi a grande espera; do período que chamo de “plantação em charco raso”.

Era a busca para re-direcionar a carreira profissional, depois de passar pela saída da empresa em que havia feito uma sólida carreira executiva nos últimos 12 anos. Poderia partir para a iniciativa privada como consultor, poderia partir para a montagem de um novo empreendimento, poderia voltar ao mercado de trabalho executivo em uma nova colocação no mundo corporativo.

O tempo era meu, e não era meu. Os segundos escorrem rápidos e lentos ao mesmo tempo nesta situação transitória. De repente estava em casa, de repente não havia muito lugar para estar. Porém de repente era a pessoa mais feliz do mundo por poder estar em casa na hora em que estava.

 Estranho, muito estranho.

Uma grande semeadura de novas idéias, de novos empreendimentos e iniciativas, de outras relações, de muita conversa e reflexão.

“Plantação em charco raso”! Você vê o fundo do terreno debaixo da água rasa do charco, conhece a fertilidade do terreno e sabe que as novas sementes em suas mãos são boas. No entanto, sabe que está tentando plantar em uma época não adequada, pois há muita água cobrindo o solo, o que é bom para o florescimento e para a colheita; mas inadequado para nova semeadura de sementes ainda tenras e novas… Precisei me contentar – e aceitar – em colher o que havia plantado muitos anos atrás – voltar ao mercado executivo colhendo os frutos de minha própria reputação no mercado e junto ao meio específico em que passei os últimos 20 anos de minha construção de carreira. (Semeando e cuidando do florescimento durante 20 anos).

Foram meses de adaptação e de aceitação. Mudança de ambiente, nova equipe de trabalho, novo desafio, novas preocupações, novas maneiras de fazer as coisas acontecerem. O pior foi lidar com as sementes novas que estavam em minhas mãos. Como semeá-las se tenho que colher a semeadura passada?

2010 foi o ano das grandes questões simples e dos grandes paradoxos.

 Acordei desse drama do ego em um retiro espiritual em Avaré, já no final de 2010. Certo dia neste retiro, acabávamos uma sessão de meditação, a qual tinha sido muito produtiva, quando fui olhar um desenho que minha esposa havia feito atrás da minha cadeira de meditação. Inclinei o corpo, ainda ajoelhado, e perdi o equilíbrio totalmente, caindo para frente e apoiando todo o peso do corpo em meu polegar direito. Tive uma luxação assombrosa, com direito a um grande hematoma roxo e muito inchaço na mão direita. Foi provavelmente a única experiência relatada de alguém sofrendo uma contusão tão séria enquanto meditava… Incrível.

Mas como não há coincidências, ainda mais em um trabalho de meditação e aprofundamento dos níveis de nossa consciência, ficou claro que o fato era simples e estava relacionado totalmente com o meu estado energético. A dor me lembrava de que é necessário antes de tudo aceitá-la, apenas depois disto ela pode ser curada e pode desaparecer. Somente pude receber a ajuda em massagens e várias outras técnicas disponíveis com os outros participantes do retiro, quando aceitei totalmente a dor que sentia na mão e deixei de gemer e me contorcer. Aí sim eles puderam tocá-la e examiná-la mais detidamente para verificar o que havia acontecido realmente e como poderia ser o processo de cura.

Na verdade, no primeiro momento achei que havia fraturado algum osso da mão, mas apenas tive uma forte luxação na articulação do polegar. Esta foi uma nova lição, pois na hora da dor, tudo parece muito pesado e irreversível, mas ás vezes o dano não é assim tão grande como aparenta ser à primeira vista!

2010 foi o ano de praticar o básico e de uma visita constante aos meus princípios de humildade, paciência, aceitação, serenidade, competência e perseverança. Meu novo trabalho assim o exige – e muito!!

Este “back to basics” tem sido fundamental para a minha vida, apesar de bastante doído e trabalhoso. (é como uma mão luxada e muito doída!!) Foi um ano de reinventar muito rápido o que parecia solidificado e imutável. Foi um ano de colocar a mão na massa e deixar de imaginar soluções teóricas para problemas banais.

Na velocidade de um relâmpago, tive que voltar a ser, tive que ser o que não tinha sido, tive que reinventar o ser e o estar. Foi um ano para prezar o momento presente, único segundo que realmente nos pertence.

2010 foi um ano que mostrou a sua cara, a cara da nova velocidade da nossa era – da chegada de 2012 (e suas interpretações todas) já em alguns dias, em algumas horas – já sendo presente, já sendo existente.

Foi um ano que deixou os tolos olhando para trás e planejando o futuro.

 2010 foi um ano em que o presente foi/é/será permanente.

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