Arquivo da tag: tempo

O Tempo da Alma

A digestão das coisas pela alma leva um tempo completamente impossível de se prever. Um instante ou um milênio, não importa. Há que ser respeitado e venerado. É preciso ouvir a alma, aceitar sua súplica, reconhecê-la em seus anseios, aceitar suas vulnerabilidades e virtudes. É a única forma possível de transcender e avançar – para descobrir a próxima questão e repetir o processo.  

As questões de alma parecem pegajosas e inconvenientes vistas pela dimensão racional do nosso mundo. “Complicam a vida”. Creio que um dos grandes desafios da liderança corporativa seja encontrar o tempo da alma dentro do tempo do acionista. (e vice-versa).

—————————————————-

Naquele momento descobri que precisava muito mais tempo para aquela conversa.

Senti tocar algo realmente importante. Toquei ali, com toda a delicadeza que pude, e verifiquei, em seu olhar, que havia quebrado um fino e tênue cristal interno; profundo, doído e difícil de tragar.

A conversa já andava na sua metade, tínhamos meia volta de ponteiro para restaurar o estrago ou modificar o que se quebrara de forma inexorável. Tiquetaqueávamos ansiosos, trêmulos e hesitantes; em vozes e conexões subliminares; ás vezes chegando, ás vezes partindo, construindo tudo e destroçando de forma voraz cada segundo.  Angústia.

Cruel relógio mental, que nada tem a ver com a necessidade de expansão dos sentimentos; da alma humana. Imprevisível tempo físico necessário para relações humanas, mais ainda quando os racionais tempo e recurso são medidos e tabelados de forma cartesiana, precisa. Reunir-se com alguém no trabalho deveria ser mesmo “Re-unir-se” com alguém. Poder explorar a união em seus tempos, espaços, vazios e preenchimentos – com toda a alma e todo o tempo do mundo.

“Racional-mente” delimitamos nosso tempo de união, de “re-união”. Pena.

Sorte o relógio da alma não se importar com a ordem linear do fluir físico do tempo inventado pela razão. Por vezes instantâneo ao brindar-nos com soluções, conclusões e respostas transcendentais. Por vezes infinito na necessidade da introspecção para fermentar o novo caminho a seguir. A alma não se importa com nossos comezinhos limites de terceira dimensão. Ela simplesmente é; como estava sendo naquele momento sentada à minha frente com aquele traje correto de competente executiva.

Uma lágrima surgiu no canto dos seus olhos azuis. Umidamente mortal.

Suas palavras e explicações não esconderam o suspiro profundo da urgência visceral em correr daquela sala. Veio a certeza da invasão de território, do avanço do sinal, do atropelamento do outro no exercício experiente, perspicaz, do trato profissional sobre o desempenho de alguém. Orgulho e culpa.

Chegou o cerne da questão, com garras, dentes e urros. Chegou afogado estabanado. Crispado, melado, sonolento. Um tema central para tratar em uma vida. A lágrima apenas negava o encontro banal com o chefe numa quarta-feira de manhã para descobrir dragões. Surpresa.

Uma torrente poderosa como uma catarata gigante, contínua – Iguaçu – saltou em borbotões inundando o rosto jovem.

Silenciamos por trinta segundos – mil anos. Conversa de almas.

Vi fascinado o espetáculo da razão invadir o ambiente enquanto os lenços de papel se acabavam. Veio vibrante, conectada; num jogo alucinado, desfilando como outra enxurrada volumosa, colorida e descabida nas explicações lógicas, maravilhosas. Invadiu inundando a sala de sobrevivência, súplica, amparo e pedido de desculpas. Medo.

Calei e ouvi; atônito, feliz. Reconheci o exercício do ego defendendo a existência do ser.

Interferi objetivando a conversa como ensina a cartilha dos executivos competentes.  Plano de ação delineado, próximos passos claros, devida correção de rota para melhor desempenho,  oportunidades que se apresentam como chance de desenvolvimento futuro, mais e mais racionalizações convenientes. Reunião bem sucedida. Alívio da mente.

Olhei seus olhos por trás do sorriso. Meio escondida ainda andava por lá a famosa lágrima da alma invadida.

Desviei o olhar para o relógio. Nosso tempo se esgotara.

Ela deixou a sala num rastro de perfume. Olhei para a janela enquanto o telefone tocava insistente e intrometido.

É preciso cautela para avançar nos assuntos da alma humana; podem existir dragões adormecidos esperando um cutucão. Temos mesmo o direito de cutucar dragões alheios?

SETUP Ouvidoria & Soluções

setango@windowslive.com

Gentileza Esquecida

Foi uma reunião interessante e divertida, como nos velhos tempos. Fazia tempo que não recebia um convite formal e educado; que não participava como convidado especial a uma recepção correta, discreta e elegante; e que não via atenção especial aos fornecedores dada por um cliente.

Hoje em dia o mercado parece andar muito nervoso e ocupado demais para ter bons modos ou para interessar-se por qualquer um que não seja ele próprio – uma impressão dolorida e magoada, mas ao mesmo tempo uma grande oportunidade.

Dale Carnegie, autor de "Como fazer amigos e influenciar pessoas", 1a edição de 1937.

Lembro-me bem de Dale Carnegie e uma de suas frases mais simples e verdadeiras, uma das que mais gosto:

“Interessando-nos pelos outros, conseguimos fazer mais amigos em dois meses do que em dois anos a tentar que eles se interessem por nós.”

 Esta frase é de 1937 e, de acordo com o próprio Carnegie, não é mais do que uma cópia modernizada do que já falaram um dia Sócrates, Buda, Jesus e outros.

Aí está a oportunidade. Desde que o mundo é mundo que interessar-se genuinamente pelos outros tem um efeito avassaladoramente eficiente para conseguir influenciar pessoas e fazer amigos. Com amigos, os negócios acabam mais sólidos, eficientes, únicos, inovadores e lucrativos.

Esta reunião de hoje parecia um anacronismo, mas na verdade era uma retomada inteligentíssima para alavancar a vantagem competitiva daquela empresa via a mais antiga das receitas infalíveis – o bom relacionamento humano, o genuíno preocupar-se em cuidar bem e dar importância às pessoas que compõem o quadro de fornecedores principais. Estes fornecedores são chave para o futuro em termos de inovação, de renovação, de contratos duradouros e vantajosos sobre a concorrência. Na verdade são a chave para agregar valor e se diferenciar no mercado.

O evento começou com moças bonitas distribuindo crachás aos visitantes; com nome, cargo e nome das empresas cuidadosamente escritos de forma bonita e correta. Depois o programa passou por apresentações atenciosas e minuciosas sobre a trajetória da empresa; sobre seus planos e necessidades; sobre sua maneira de avaliar e incentivar os seus fornecedores; pela sua extrema carência de ajuda de seus fornecedores (nós ali presentes) para os seus planos de inovação e sucesso futuro no mercado Brasileiro.

Culminou com uma sincera homenagem a um fornecedor de mais de 50 anos de uma das matérias primas mais importantes ao longo de toda a história da empresa no Brasil. Uma homenagem simples, emocionada e com certeza muito merecida. Foi realmente bonito ouvir o depoimento sincero e direto daquele senhor que, já na segunda ou terceira geração da gestão de seu empreendimento familiar, se viu homenageado pela gigante multinacional que o tem como fornecedor estratégico a mais de 50 anos.

Este senhor falou de forma concreta e simples sobre confiança, sobre perseverança, qualidade, aprendizado mútuo e – principalmente – sobre respeito e boas relações humanas, ao longo de muitos anos de constante mudança e movimentação em seu cliente preferencial.

Anacrônico? Sinceramente acho que não. Valores como este são fundamentais e não envelhecem, veja o que falamos acima sobre Dale Carnegie em 1937…

O questionamento que vem rapidamente à mente é o do porque da pressa e da não consideração humana que figura reinante no mundo dos negócios e nas relações industriais dos dias de hoje. Será que simplesmente viramos máquinas de realizar negócios cada vez mais transacionais e egoístas ao custo do que é realmente humano, do que é mais valioso desde tempos imemoriais – do que é a verdadeira “alma” de qualquer transação comercial – o bom relacionamento humano?

Hoje recebi uma grande aula deste cliente e me senti genuinamente feliz de ser um fornecedor deles. Depois de toda a apresentação e da homenagem ao parceiro antigo e estratégico; ofereceram-nos um coquetel muito correto, discreto e agradável, onde foi possível conversar, conhecer pessoas, realizar negócios e contatos importantes; aprofundando muito positivamente a relação com o cliente em questão. Com certeza muitos novos horizontes para este cliente foram abertos neste evento, neste gesto de boa educação e genuína consideração para com os seus fornecedores principais.

No final do evento, em minha cabeça de julgamentos rápidos e precipitados, eu já havia classificado o evento como normal, até meio desajustado no tempo e mesmo anacrônico como à primeira vista costumamos classificar alguém que faz alguma gentileza como ceder o assento em uma sala de espera ou dar lugar para que você entre na faixa de direção no trânsito caótico da metrópole.

O que me chamou a atenção e me deu a consciência sobre o quanto aquela situação era especial foi um comentário que ouvi por acaso de um colega fornecedor ao receber o belo brinde de participação, especialmente desenhado para o evento:

“Incrível, fazia muito tempo que eu não ganhava alguma coisa de um cliente além de problemas reclamações, pedidos de desconto ou falta de educação crônica… estou até estranhando isso! Moça, você tem certeza que é para mim mesmo esta caixa bonita?”.

 Na verdade o evento foi inovador em sua simplicidade, já que ninguém mais tem realizado tais gentilezas e o que era corriqueiro no passado ficou com um ar diferente e positivo hoje em dia. Garanto que os fornecedores que ali estavam irão esforçar-se muito pelo sucesso deste cliente; aliás, diga-se bem, muito provavelmente sem custo adicional para isso.

A gentileza e atenção são demonstrações difíceis de esquecer, e bastante eficientes. Andam meio que esquecidas e, ás vezes, muito mal utilizadas. Normalmente gentileza e atenção acabam mesmo usadas como bajulação. Quando isso acontece, elas são facilmente desmascaradas e desacreditadas, tornando-se “tiros pela culatra”.

Hoje sem dúvida senti que ganhei um presente e senti orgulho de ser um fornecedor daquela empresa.

Há luz no final do túnel – e não é o trem chegando.

Frase do Padre Vieira, século XVII

SETUP Ouvidoria & Soluções

setango@windowslive.com

Luz na Estação Antiga

Estação da Luz - São Paulo - por volta de 1908

Ainda sinto a sensação que era chegar de Rio Preto na grande estação escura; com aquele cheiro que o nariz do menino identificava como algo meio vago e característico, chamado poluição.

Era um cheiro doce de podridão misturado com a borracha queimada do freio do trem. Cada silvo deste freio chegando, cada apito do trem; e o som seco das rodas metálicas nos trilhos, ficava impregnado por muito tempo como um selo bem colado em carta, como cola feita de água e farinha nos dedos depois de fazer a pipa.

Os sons acompanhavam os dias de férias e as noites da fria São Paulo do final da década de 60.

Partida e chegada na Luz - década de 60

O coração pulando como um burro xucro dentro do peito, depois das 10 horas de paradas curtas, caminhos longos, barulho e calor. Geralmente malas grandes, minha mãe e seus óculos escuros e lenço na cabeça – uma deusa de filme dos anos 50.

Ali a grande multidão da Luz. Um grande tumulto, muito barulho, meio frio, meio garoa, totalmente São Paulo, com sua vastidão misteriosa e os seus muitos ruídos e sujeiras.

Meu avô Augusto em seu apartamento de Santo Andre - por volta de 1969

Invariavelmente meu avô Augusto na plataforma a esperar atento. Seu cigarro Kent, de maço verdinho e cheiro ardido de fumo barato. Seus óculos de aro redondo e sua imensa bondade no sorrir e abraçar. E carregar a mala, e acender outro cigarro ao dar as boas-vindas e comprar as passagens do Santos-Jundiaí para Santo André, nosso destino final.

Ainda na plataforma esperando o trem urbano, o menino podia observar mendigos, vendedores, famílias, gente de chapéu e guarda-chuvas, ali mesmo compartilhando a multidão apressada sempre. Cada um mais ou menos perdido em seu mundo particular, com aquele ar de metrópole de quem age como se estivesse só e ninguém observando, sabendo que nenhum detalhe é perdido por ninguém em volta. Uma multidão de solidões, ou, na visão dos 7,8 anos do menino; a solitária multidão de São Paulo.

O arrepio na espinha vinha invariavelmente quando se ouviam os apitos agudos dos trens que chegavam e partiam – fumaça, meio escuro, cheiro forte, gente à beça.

Assim é a Estação da Luz no meu repertório de lembranças da década de 60. Era um monstro de ferro; sujeira; fuligem escura e fedor característico. Com muita gente, com muito movimento e a vivacidade dos trens partindo e chegando a cada instante. Lembro muito da impressão incrível ao ver todos aqueles ferros da estrutura inglesa e bonita desta obra prima da Arquitetura. Uma impressão de metrópole, de vida moderna e apressada, de uma cidade parte ativa da história do mundo.

Voltar a este lugar em 2011 é simplesmente incrível.

Estação da Luz - dezembro 2010

Uma restauração impressionante foi feita neste velho edifício e ele ficou com um ar bastante interessante e diferente – meio pasteurizado, já que agora é claro e iluminado como uma lembrança distante do que um dia foi debaixo de toda a sujeira e fuligem de quando era usado por aquele menino na década de 60… Lembrou-me muito de uma visita que fiz em Londres na Inglaterra, já há alguns anos atrás. Naquela visita tive a impressão que Londres parecia uma cidade “de brinquedo”, não muito verdadeira; quase um cenário. Minha referência mental de Londres vinha dos filmes e histórias; onde havia invariavelmente muita neblina; fumaça, confusão e sujeira.

 A Londres de hoje é absolutamente “Clean”… Bonita, mas com outra alma que não aquela do meu referencial interno. Achei  parecida a um cenário da Globo para uma novela. Será que a Globo transformou a Estação da Luz em cenário?

Luz - dezembro de 2010

A pergunta relevante parece ser outra: será que nossa lembrança precisa ser assim passada a limpo, ter mais limpeza e claridade para melhor lidarmos com ela quando a encontramos? Para dizer a verdade, senti falta da fuligem e do cheiro azedo que para mim chamavam “Estação da Luz”.

Por outro lado, a reforma trás coisas muito interessantes para o lugar, além de que plasticamente o edifício está simplesmente sensacional. Trás um inusitado piano no saguão para que qualquer pessoa possa sentar-se e tocar. Algo meio perdido ali no meio do saguão da estação; algo que as pessoas custam a entender o significado e ficam rodeando meio indecisas sobre qual seria a utilidade oculta daquilo e de como devem se comportar a respeito da presença do piano ali naquele lugar.

Durante o tempo que fiquei por ali, gostei mesmo foi do cidadão que, com sua mochila nas costas, provavelmente a caminho de volta ou de ida para a sua vida cotidiana, sentou-se tranquilamente ao piano e sacou uma interpretação bastante rebuscada do clássico “My Way”.

Piano na Estação da Luz - dezembro 2010

Ficamos todos (nós os transeuntes) ali parados; meio indecisos se aquilo era bonito ou feio, normal ou anormal, legal ou brega, para rir ou para chorar. Enquanto isso, a melodia avançava cada vez mais rebuscada e cheia de floreios de um virtuose transeunte. Gente ficava com ar distante, gente parava e olhava com curiosidade, gente – como eu – fotografava indeciso sobre o que fazer naquela circunstância inesperada, ouvindo uma interpretação fora de qualquer contexto, mas boa daquela melodia conhecida.

A Estação da Luz continua colocando São Paulo no circuito das grandes metrópoles, onde espetáculos de rua são corriqueiros e numerosos. A diferença aqui é que não havia um chapéu deste transeunte pedindo contribuições de qualquer espécie.

Ele tocava “My Way” porque simplesmente aquele era “his way”! Nada mais.

Pela maneira como tocava, havia muito que ensaiava e caprichava em cada nota e em cada floreado a mais que adicionava na melodia original. Era um artista que encontrara seu palco, seu piano particular e seu público predileto. No final, em meio aos tímidos aplausos, levantou-se e foi embora solitário, como cada um dos milhões da metrópole.

Nós, os transeuntes, de volta ao corre-corre, até que algum outro transeunte resolvesse mostrar a todos um alternativo – e único – “My Way”.

SETUP Ouvidoria & Soluções

setango@windowslive.com

Presente Permanente

2010 foi um ano interessantíssimo, muito curto e muito longo ao mesmo tempo. Não parece que o tempo está um grande voador interplanetário; viajando na velocidade da luz?

Temos a ilusão do controle da agenda, do planejamento, da estimativa, dos prognósticos, mas absolutamente a impressão que a realidade nos trás é que estamos navegando em um mar bravio com pouca influência de nosso próprio leme a respeito de nosso destino. O vento e as marés nos levam subitamente para terras e mares ainda desconhecidos – de forma inesperada, sempre. O tempo flui, corre e escorre rápido e inexorável. Cada segundo do presente pode mudar todo o destino de nosso barco. (ou não!)

2010 foi assim, um átimo, um século, um minuto. Dentro do peito a sensação de que acabou de começar, dentro do peito a sensação de que acabou finalmente, de que já vai tarde… que deixa saudades, conquistas e alívios por sofrimentos finalmente vencidos.

Um ano de reflexão. E ação – Muita ação.

Começou com uma incrível viagem ao deserto do Atacama – de São Paulo a San Pedro de Atacama no Chile, junto com mais três carros além do nosso querido Freelander.

Atacama - Janeiro de 2010 - foto de Henrique Sottovia

Éramos 13 aventureiros-turistas, passando um senhor calor no sol da Argentina e na maravilhosa Cordilheira dos Andes.

Uma viagem com muito significado e profundidade, rica de experiências de convívio, amizade, reflexão e observação; tudo com o pano de fundo da profundidade e significância do caminho incrível até lá. Olhar os vulcões viajando a 4000 metros de altitude, no altiplano da Cordilheira, é no mínimo uma experiência transcendental. Quem vai até a Cordilheira deve voltar. Essa foi a nossa segunda vez por lá e realmente foi a constatação dessa verdade.

O deserto é um capítulo à parte. Uma grande serenidade na imensidão da secura e na poesia das paisagens completamente inusitadas. Uma noite esplendorosa de estrelas para lembrar-nos de que também somos o Universo, que somos também um ponto brilhante no escuro do céu infinito.

 O deserto fala e declama sabedoria infinita e atemporal. Apenas é necessário aprender a escutá-lo com a alma, deixando a mente aquietada, saindo completamente do fluir linear do tempo que criamos artificialmente provavelmente por alguma razão de sobrevivência da espécie.

Depois do Atacama, veio o período de 2010 que foi a grande espera; do período que chamo de “plantação em charco raso”.

Era a busca para re-direcionar a carreira profissional, depois de passar pela saída da empresa em que havia feito uma sólida carreira executiva nos últimos 12 anos. Poderia partir para a iniciativa privada como consultor, poderia partir para a montagem de um novo empreendimento, poderia voltar ao mercado de trabalho executivo em uma nova colocação no mundo corporativo.

O tempo era meu, e não era meu. Os segundos escorrem rápidos e lentos ao mesmo tempo nesta situação transitória. De repente estava em casa, de repente não havia muito lugar para estar. Porém de repente era a pessoa mais feliz do mundo por poder estar em casa na hora em que estava.

 Estranho, muito estranho.

Uma grande semeadura de novas idéias, de novos empreendimentos e iniciativas, de outras relações, de muita conversa e reflexão.

“Plantação em charco raso”! Você vê o fundo do terreno debaixo da água rasa do charco, conhece a fertilidade do terreno e sabe que as novas sementes em suas mãos são boas. No entanto, sabe que está tentando plantar em uma época não adequada, pois há muita água cobrindo o solo, o que é bom para o florescimento e para a colheita; mas inadequado para nova semeadura de sementes ainda tenras e novas… Precisei me contentar – e aceitar – em colher o que havia plantado muitos anos atrás – voltar ao mercado executivo colhendo os frutos de minha própria reputação no mercado e junto ao meio específico em que passei os últimos 20 anos de minha construção de carreira. (Semeando e cuidando do florescimento durante 20 anos).

Foram meses de adaptação e de aceitação. Mudança de ambiente, nova equipe de trabalho, novo desafio, novas preocupações, novas maneiras de fazer as coisas acontecerem. O pior foi lidar com as sementes novas que estavam em minhas mãos. Como semeá-las se tenho que colher a semeadura passada?

2010 foi o ano das grandes questões simples e dos grandes paradoxos.

 Acordei desse drama do ego em um retiro espiritual em Avaré, já no final de 2010. Certo dia neste retiro, acabávamos uma sessão de meditação, a qual tinha sido muito produtiva, quando fui olhar um desenho que minha esposa havia feito atrás da minha cadeira de meditação. Inclinei o corpo, ainda ajoelhado, e perdi o equilíbrio totalmente, caindo para frente e apoiando todo o peso do corpo em meu polegar direito. Tive uma luxação assombrosa, com direito a um grande hematoma roxo e muito inchaço na mão direita. Foi provavelmente a única experiência relatada de alguém sofrendo uma contusão tão séria enquanto meditava… Incrível.

Mas como não há coincidências, ainda mais em um trabalho de meditação e aprofundamento dos níveis de nossa consciência, ficou claro que o fato era simples e estava relacionado totalmente com o meu estado energético. A dor me lembrava de que é necessário antes de tudo aceitá-la, apenas depois disto ela pode ser curada e pode desaparecer. Somente pude receber a ajuda em massagens e várias outras técnicas disponíveis com os outros participantes do retiro, quando aceitei totalmente a dor que sentia na mão e deixei de gemer e me contorcer. Aí sim eles puderam tocá-la e examiná-la mais detidamente para verificar o que havia acontecido realmente e como poderia ser o processo de cura.

Na verdade, no primeiro momento achei que havia fraturado algum osso da mão, mas apenas tive uma forte luxação na articulação do polegar. Esta foi uma nova lição, pois na hora da dor, tudo parece muito pesado e irreversível, mas ás vezes o dano não é assim tão grande como aparenta ser à primeira vista!

2010 foi o ano de praticar o básico e de uma visita constante aos meus princípios de humildade, paciência, aceitação, serenidade, competência e perseverança. Meu novo trabalho assim o exige – e muito!!

Este “back to basics” tem sido fundamental para a minha vida, apesar de bastante doído e trabalhoso. (é como uma mão luxada e muito doída!!) Foi um ano de reinventar muito rápido o que parecia solidificado e imutável. Foi um ano de colocar a mão na massa e deixar de imaginar soluções teóricas para problemas banais.

Na velocidade de um relâmpago, tive que voltar a ser, tive que ser o que não tinha sido, tive que reinventar o ser e o estar. Foi um ano para prezar o momento presente, único segundo que realmente nos pertence.

2010 foi um ano que mostrou a sua cara, a cara da nova velocidade da nossa era – da chegada de 2012 (e suas interpretações todas) já em alguns dias, em algumas horas – já sendo presente, já sendo existente.

Foi um ano que deixou os tolos olhando para trás e planejando o futuro.

 2010 foi um ano em que o presente foi/é/será permanente.

SETUP Ouvidoria & Soluções

11-81704900

setango@windowslive.com

Os Mensageiros

Os Mensageiros - Valentina Monteiro - 2010

“Eles vêm de todos os pontos sagrados.

Desenham-se no azul infinito do Leste, o centro da iluminação, a porta dourada onde habita a Águia.

Carregam em suas cores os segredos das florestas do Sul – trazem a inocência e a cura.

Com seu canto solitário e pungente, entregam os profundos mistérios das altas montanhas à Oeste e, mais além, a introspecção; o silêncio oculto e divino do deserto.

Em bando e algazarra, confeccionam preciosas tapeçarias – verdadeiros caleidoscópios celestes. O Norte, a sabedoria, a gratidão.

Ou vem assim, diminutos, indefesos. Oferecem o canto delicado e singelo. Sacodem os galhos que despejam flores no chão – chuvas esparsas.

Trazem na frágil leveza dos pés a cantiga dos riachos, o bulício das corredeiras, o despertar das cachoeiras, o denso manto dos oceanos.

Vêm em sonhos, leves e esvoaçantes – beleza transparente.

Vêm também terríveis, em garras e dentes, aterrorizantes demônios – pesadelos.

Voam alto, enxergam longe, abrangem um mundo num abrir de asas. Conhecem as leis ocultas do vento, guerreiros, protetores.

Um vôo, uma aparição, um canto, um trinar, um pouso, um olhar – uma mensagem. Reveladora e única.

Esteja atento.”

texto de Valentina Monteiro – Agosto de 2010

www.valentinamonteiro.com.br

SETUP Ouvidoria & Soluções

11-81704900

setango@windowslive.com

Existem dois tempos?

Cachoeira do Simão - Gonçalves, MG - Foto S. Tango

Acordar, levantar, tomar um bom e demorado banho e um senhor café da manhã – totalmente mineiro, com pãozinho de queijo, docinhos e bolo de fubá – completinho. Depois um bom descanso com um dedinho de proza com os outros hóspedes da pousada em Gonçalves, MG.

Uma proza esticada com referências de passeios, visitas feitas à cachoeiras distantes e dicas de bons restaurantes e bom café; passando por endereços para artesanato e doces típicos.

Sem pressa a preparação da caminhada carregando a máquina fotográfica, o cantil, um boné estratégico junto com o banho de filtro solar no rosto e braços. Uma caminhada agradável e o “efeito cebola” de ir tirando os casacos a medida que o dia esquenta gostoso. Uma foto aqui, uma paradinha ali, uma trilha fácil e um terreno de montanha – com a luz brilhante sempre realçando os verdes e os azuis do caminho. Anda-se muito, a fome aperta, o coração agradece a paisagem exuberante.

Na volta o sentimento do suor vivo com o sol já forte e a boa sede da caminhada revigorante. Uma outra parada, uma nova foto, uma outra cachoeira, uma nova árvore bonita e a paisagem da distância de muitos tons.

São 11:30 quando olho pela primeira vez no relógio – já havíamos vivido um ano naquela manhã.

O tempo é nosso.

Uma manhã normal em São Paulo.

Acordar, correr, pular da cama e tomar um banho apressado no frio da manhã. Barba, loção, roupa. Os meninos para levantar são um sufoco. Café da manhã corrido de uma vitamina batida – o som estridente do liquidificador na manhã ainda escura.

Correndo pegar o carro e sair com os meninos para a escola – pegaram o lanche? a marmita? a mochila? Atrasados, sempre. 

O rádio indica caminhos e engarrafamentos – muitos. A Raposo Tavares está parada – vamos pelo caminho alternativo por dentro – lentidão, um montão de carros. O rádio vai falando, o silêncio no carro vai reinando. Chegamos na fila da entrada da Escola, deixo os meninos com um “boa aula” meio automático. Pegar a Raposo de volta e entrar no Rodoanel. Parado.

Parado, andando, parado, andando – corto pela direita, depois pela esquerda, passo pelo sem parar e chego na Castelo. Parada, andando, parada. O rádio fala, a Castelo não anda. Um pouco de acostamento, um pouco na esquerda, entro na reta final do Tamboré.

O prédio ainda está acordando – chego para um café da manhã já atrasado, já demorado antes de se iniciar. Um pãozinho, um café com leite, fatias de mamão. Subo o elevador ainda com leite e café no pensamento. O que será hoje?

Um mar de interrupções. Um mar de telefonemas, e-mails, conversas rápidas e inacabadas. Um pensamento do que fazer e de como planejar, uma frustração de não poder fazer tudo o que se deveria.

Um mar de interrupções que é interrompido vez ou outra pela resolução de problemas e finalização de tarefas.

São 11:30 quando olho pela primeira vez no relógio. Ainda não tinha ido ao banheiro hoje.

O tempo é nosso?

SETUP Ouvidoria & Soluções

11-81704900

setango@windowslive.com.br

A Liderança, o tempo e a reflexão.

"É tarde, é tarde, meu Deus é muito tarde!!!!"

Uma pergunta clássica dos líderes – e comum a todos eles – diz respeito ao gerenciamento do seu tempo e a abertura de mais espaço para a reflexão em meio à miríade de atividades e urgências diárias que se impõem implacavelmente e persistentemente dia após dia, mês após mês, ano após ano.

Como é possível balancear a necessária atividade de reflexão que um líder deveria praticar regularmente com a frenética busca dos resultados de curto prazo e as conseqüentes agendas superlotadas?

O fenômeno da frenética atividade parece colocar para dormir na inconsciência muitas mentes brilhantes, o que provavelmente causa um prejuízo incalculável a respeito das melhores decisões e do exercício mais produtivo em termos de liderança efetiva. Mesmo aqueles que são verdadeiros mestres na arte de “apagar incêndios” e cobrir urgências, podem ter seu desempenho; e mesmo sua saúde, bastante comprometidas se submetidos por longos períodos nesta roda viva sem fim dos incêndios a serem debelados diariamente.

O que fazer então?

A sugestão é bastante simples, mesmo que a “roda viva” não acabe (porque na verdade ela não vai acabar nunca mesmo!), está resumida em duas palavras: “Consciência e Ação”.

Primeiro passo sugerido:

É necessária uma análise mais profunda e crítica sobre as atividades diárias que aparecem como prioritárias em seu “to do list”.

Serão elas relacionadas com atividades que passam a sensação de que se está “trabalhando muito”; que se está “super ocupado”; e assim o sentimento de dever cumprido e de agregação de valor fica; de alguma forma, burlado pela carga de trabalho e não exatamente pela qualidade e bons resultados do trabalho executado?

Aqui cabe uma reflexão e um exercício bastante difundido a respeito dos quatro quadrantes entre importância da tarefa (eixo x) e a urgência da tarefa (eixo y). Veja O trabalho do Guru Stephen Covey para maiores referências, ele é o mestre desta arte!

Pense em seu “to do list”: Qual é o balanço das atividades que você tem executado considerando as cores dos quadrantes abaixo? 

Gráfico da Importância vs. Urgência

Será que o tempo dedicado as tarefas amarelas, que necessitam mais reflexão e mais aprofundamento normalmente, está bem equilibrado? Será que tudo é mesmo urgente? Será que as tarefas roxas e verdes estão consumindo seu tempo e ao mesmo tempo dando a sensação a você que o seu dever está sendo cumprido? Será que os vermelhos de hoje não são os amarelos de ontem que ficaram pendentes?

Segundo passo sugerido:

Crie espaço para você dentro do seu “to do list”.

Parece simples, mas não é assim tão fácil, pois requer disciplina e muita consciência da importância do ato de pensar para a qualidade de suas decisões e para a sua efetividade como líder.

Experimente marcar um encontro com você mesmo, abra sua agenda para compromissos regulares com aquela pessoa que mais vai ajudá-lo em suas tarefas e desafios – você mesmo. Pode ser que esta tarefa não esteja listada com a cor amarela no exercício acima, mas deveria.

Sugiro que você vá a um lugar bonito e tranqüilo, perto da natureza, por exemplo; onde você possa ficar sozinho. Ou então, vá para o seu “cantinho secreto” na sua casa, ou no seu carro, ou em uma praça que você goste muito, algo assim. Como conselho básico, eu diria que você deveria, nesta sua “horinha com você”, desligar o seu celular e ficar mesmo fora do ar por alguns minutos. Não precisa ter propriamente uma agenda formal ou mental para este encontro, apenas encontre você mesmo dentro de sua agenda diária!

Estes momentos não são necessariamente para profunda reflexão e para o encontro de fórmulas mágicas que vão solucionar todos os seus problemas de curto, médio e longo prazo. Mesmo não sendo momentos onde você sairá gritando EUREKA aos quatro ventos, esta pausa no tremendo “brain storm” diário a que você está submetido como um líder poderá servir como um fator de equilíbrio muito saudável para a sua vida de forma geral. Apenas pelo fato de que você parou para olhar para o seu interior, para o seu verdadeiro eu.

Alguns chamam esse exercício de “meditação”; onde o objetivo seria esvaziar a mente para poder começar a sentir realmente quem você é e como andam as coisas na sua vida. Existem inúmeras técnicas para meditação e coisas parecidas com meditação. Com certeza você já teve, tem ou terá algum contato com alguma(s) delas.

Pode ser que para o processo ficar mais produtivo e dinâmico, elas sejam bons caminhos de auxílio. Experimente. Por que não?

Terceiro passo:

Faça as perguntas certas sobre o que você (e os seus liderados) tem feito ultimamente:

Pergunte a todo o tempo qual é o valor de cada atividade e de cada segundo de energia gasto com alguma atividade. Estas perguntas devem ser simples e não necessariamente devem ser respondidas completamente. O importante é o questionamento e não necessariamente as respostas obtidas.

O exercício do questionamento provoca a consciência sobre todas as atividades e ao longo do tempo o exercício de questionar passa a ser um hábito saudável para a imediata tomada de consciência sobre as atividades diárias, elas passam a estar sob seu controle e não mais são atividades automáticas (inconscientes), onde sua mente passa a dormir tranqüila enquanto o seu corpo trabalha como um louco na execução de muitas coisas ao mesmo tempo!

Existe uma metáfora que gosto muito; que pode ilustrar melhor o que quero dizer: Existem pessoas que são lenhadores muito bons, cortam florestas inteiras de uma forma muito eficiente e rápida. Porém o verdadeiro bom lenhador é aquele que sabe bem qual é a floresta que deve cortar, e isto exige que ele pense antes sobre isso! O risco do lenhador que apenas corta as árvores bem é cortar a floresta errada! A ação sem consciência é potencialmente perigosa! Tenha cuidado com isso.

Por exemplo – Você já se perguntou se realmente deveria investir tanto tempo no gerenciamento dos seus e-mails?

Ou então, você já se perguntou se deveria realmente deixar de marcar um compromisso com você mesmo para a sua reflexão porque naquele dia a sua agenda tem uma reunião atrás da outra sem nenhum intervalo de pausa?

Aliás, você marca seus compromissos sem deixar “janelas estratégicas” entre eles para que você possa respirar um pouquinho? Ou mesmo para poder ir ao banheiro?

O tempo é seu. Use-o com sabedoria.

SETUP Ouvidoria & Soluções

Sergio Tango

11-81704900

setango@windowslive.com  twitter: @setango